Fonte: http://vejabh.abril.com.br/edicoes/belo-horizontina-nota-dez-770708.shtml
"Escolhi não ter filhos biológicos, mas tenho milhares de filhos de criação" Solange Bottaro (à esq.), com Beatriz Cristina de Assis e Jefferson Gonçalves, alunos do projeto Antenados
Filha mais velha de uma conservadora família de origem italiana, Solange Bottaro precisou superar a desconfiança de seu rigoroso pai quando, aos 23 anos, decidiu trabalhar como voluntária social no Instituto Ramacrisna. Apesar do nome, semelhante ao do líder hindu Ramakrishna, a entidade não tem vínculo com nenhuma religião. Localizada na área rural de Betim, na região metropolitana, é uma instituição filantrópica que acolhe crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. "O meu pai não entendia por que eu queria ir para o meio do mato tomar conta, de graça, dos filhos dos outros", lembra Solange. Na época, a belo-horizontina morava com os pais no boêmio bairro Santa Tereza e cursava o 2º ano de cinema na PUC Minas. Com o apoio da avó e da mãe, ela mudou-se para Betim. "Chorei muito quando deparei com as histórias de abandono das oitenta crianças que lá viviam", revela. Em 1973, o lugar funcionava apenas como um internato que recebia meninos rejeitados pela família. Determinada a melhorar a vida daqueles pequenos, ela passou seis meses ali. No período, não pôs os pés em Belo Horizonte nem uma vez sequer. "Foi uma internação voluntária", brinca.
Hoje vice-presidente da instituição, Solange é considerada uma das principais responsáveis pela transformação que se verificou por lá. O ambiente carregado de ódio e revolta deu lugar a uma atmosfera de harmonia, em que crianças e adolescentes compartilham o aprendizado. Entre os vários projetos que a gestora social criou, o maior xodó é o Antenados, que está prestes a completar sete anos. Por meio de oficinas de texto, foto e vídeo, o programa formou dezenas de jovens comunicadores. "É muito gratificante quando adolescentes que poderiam estar envolvidos com drogas saem do Antenados para a faculdade", diz, emocionada. Em quatro décadas de trabalho, Solange viu passar pelo Ramacrisna mais de 20 000 crianças. "Escolhi não ter filhos biológicos e fui marginalizada por isso", afirma. "Mas tenho milhares de filhos de criação."
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